No início do ano letivo, no período da semana pedagógica, a coordenação da escola, onde leciono, entregou um texto que fala de professor jurássico, segundo o qual seria aquele profissional que não intercala nas suas aula as novas tecnologias, seria o professor que resiste às mudanças. Um profissional que não é tocado ou convencido da importância de se usar o DVD, vídeo, data show e assemelhados.
O texto, como era de se esperar, causou aborrecimento, constrangimento e mal estar entre os docentes e até hoje, mais de um mês depois, é comentado com certo descontentamento no corpo de professores. O que seria um alerta ocasionou o contrário um sentimento de revolta e desconfiança, posto que – conforme alguns docentes – faltou contextualizar, analisar as varáveis que perpetram o não uso das tecnologias. Uma professora, por exemplo, relatou que toda às vezes, em 2006 e 2007, que tentou usar os equipamentos deparou-se com: falta de cabo, equipamentos desconectados, desmontados, desligados, fios que não se encaixam. Some-se a isso falta de espaço físico adequado, posto que necessário é retirar professor e alunos, imagine a confusão, a fim de trocar de sala.
Um pedagogo que detem a falta de condução do dia-a-dia de uma sala de aula, não conhece a realidade de se, exemplificando, trocar alunos de 5ª ou 6ª série. Educandos novos, imaturos, sinestésicos e com muita energia; e depois reagrupá-los em uma outra sala. A lacuna de experiência faz com que uma grande parte dos pedagogos vai de entro com a pratica, já que teoria e pratica devem adequar-se. No entanto, há momentos em que a teoria não tem solução para uma situação do cotidiano, visto que ela (a teoria) se expirou. A criatividade a inventividade e experiência são as ferramentas para equacionar uma questão ou problema de sala de aula.
Continuando o que dizia, o texto professor do período jurássico em vez de criar o vínculo de compromisso, ou seja, um sentimento de união, de boa vontade. Teve como conseqüência mágoa, tristeza, desilusão e, mais ainda, abateu a estima de muitos docentes. Outros, por sua vez, viram com ceticismo à idéia do texto, como uma forma das organizadoras camuflarem as suas próprias inabilidades, falta de conhecimento, falta de visão de mundo, lacuna na “teo-práticidade”. Fato que veio ferir profundamente o grupo.
Para demonstrar que falta de visão de mundo, e a falta de contextualizado interferem no correto julgamento ou análise dos fatos, quero reportar um fato que vem ao longo dos anos indicando que não é o professor responsável pelas mazelas da educação. Se essa premissa fosse verdadeira, os hospitais super lotados, macas pelos corredores, pacientes no chão, encostados as paredes, alguns gemendo de dores e implorando por atendimento. Outros aguardando na portaria o maqueiro que demora de chegar, por que precisa colocar um paciente em cadeiras de rodas, a fim de usar essa maca com aquele paciente da portaria, que acabara de chegar. Toda essa sorte de coisa é culpa dos médicos. Então as mazelas dos hospitais públicos deveriam ser imputadas aos médicos; os alagamentos aos engenheiros; as tempestades e alagamentos, seguidos de morte ao bombeiro.
Ora, se isso fosse verdade, então a culpa do Brasil ter uma população de desdentados, seria é claro do dentista. Isto é, com base na premissa anterior do professor ser o culpado pelos males da educação. Em sendo assim, cabe aos dentistas a responsabilidade pelo fato do Brasil ser um país de desdentados. Será que os odontologistas aceitariam uma afirmativa de tal natureza, obviamente não.
Em de acordo com essa tal lógica da culpabilidade, se como disse a premissa fosse verdadeira; a culpa das estradas esburacadas, cheios de crateras, sem acostamentos, também seria culpa dos engenheiros. Porque os engenheiros não fazem o serviço com amor, não usa a modernidade a fim de tornar o asfaltamento mais dinâmico, diminuindo os acidentes e a velocidade dos carros. E a violência urbana ou rural é culpa da policia porque prendem demais e, com isso, lotam os presídios e delegacias. Revoltando os presos e causando mais violência. Se a polícia prendesse menos os presídios não estariam lotados, um absurdo se isso fosse verdade.
Absurdo, de tamanha indignação, é dizer que a culpa da mulher ser estuprada é porque ela veste saia cura provocando o homem. Alguém em sã consciência aceitaria isso como verdade? Seria o mesmo que dizer que os bancos são culpados pelos assaltos, porque guardam muito dinheiro nos caixas e cofres, risível. Nenhum banqueiro ouviria tamanho absurdo sem uma reação a altura.
Encerrando as ilustrações, no ano passado fiz o curso interagindo na rede a fim de subsidiar os professores no uso do computador como veículo de aprendizagem, incluindo, assim, a educação no mundo digital. Até ai tudo bem: criamos blog, webquest, sites. Empolgado procurei dar ao blog toda funcionalidade possível, revesti-lo de “coisas” que fossem úteis para professores, alunos, funcionários. Exemplo disso, é que viabilizei portal do servidor, universidades, sites de pesquisas, buscas, governos de diversos estados, concursos, empregos, televisão, radio. Sem fugir de interagir com meu aluno: exercícios, lista de aprovados, apontamentos, avisos, conteúdos das unidades, fotos dos trabalhos e muito mais. Entretanto, na primeira vez que fui testá-lo na escola deparei-me com vários problemas: mouse com defeituosos, máquinas desinstaladas, programas que não rodavam e o pior uma banda lerda, ou seja, uma página que demorava para carregar. A direção por várias vezes tentou com os responsáveis ligou, agendou, solicitou oficializou e nada de prático aconteceu. O ano de 2007 se foi, iniciou 2008 e os mesmos problemas continuam.
Proseguindo com o raciocínio, durante as férias procurei adquirir vídeos que ilustrassem meses do ano, números, animais, objetos, cotidiano da língua inglesa. A proposta seria na primeira semana de aula apresentar para o aluno a degustação dos vídeos que seriam usados ao longo dos anos, num total de quinze vídeos, de acordo com a série. Na segunda feira, primeiro dia de aula, deparei-me com vídeo, ou seja, DVD, desinstalado, cabo que não foi encontrão, tomada que não funcionava, além de ter que ficar desalojando professores e alojando em outras salas e no final, quase trinta dias depois e os vídeos não foram apresentados aos alunos.
Por semanas solicitei a coordenação que viabilizasse meios e modos de que eu pudesse cumprir aquilo que fora objeto da jornada pedagógica. Aquilo que fomos irresponsavelmente chamados de atrasados. As coordenadoras não forma capazes de solucionar uma questão: viabilizar a modernidade da escola. Caberia a elas provocar soluções, como fazemos com nossos alunos. Caberia as coordenadoras por os equipamentos modernos em funcionamento e, não ficarem sentadas em cadeiras chamando professores de jurássicos. O papel de cada uma na construção de uma boa escola é formado por todos, não por falares, discursos e agitações costeiras. A educação se é jurássica é culpa das coordenadores, na medida em que elas não facilitam a vida funcional dos professores. Não equacionam os problemas de equipamentos, não procuram espaços e não auxiliam os professores nas suas necessidades.
Em fim, o professor não pode e nem deve aceitar o fardo do fracasso educacional, pois ele vem do seio da família quando os pais não acompanham seus filhos, não dão limites, não fiscalizam, não lhes ensinam simples coisas: “bom dia. Licença senhor, senhora”. Quando, a mídia joga desde desenhos, filmes, novela e séries que enfatizam a violência; quando os governantes abandonam a própria sorte famílias inteiras deixando-as viver no nível abaixo da miséria; quando, as igrejas alienam e não educam com a fé os fieis proferindo a palavra de Deus, na plenitude; quando, a classe empresarial e técnicos de toda ordem defendem ração básica mínima para o trabalhador, índice previdenciário que levam famílias a cada dia ao bolsão da inanição porque saúde, educação e segurança não são investimento, são custos, gastos, prejuízos.
Em sendo assim, é urgente e necessário se buscar um verdadeiro resgate para a educação nacional. E isso significa investimento. Quando o governo cria cargos dando reajuste de mais de cem por cento, há recursos. Quando é para educação gera gastos, não investimentos. O professor que não é culpado de coisa alguma é tão vítima tão quanto o aluno, pois são eles que passam oito horas em escolas: com sanitários quebrados, carteiras quebradas, salas sujas, sem poder fazer suas necessidades, com falta d’água, insegurança, assaltos, roubos, furtos, ameaças, ataques de gangs, falta de policiamento. Logo, que todos os faladores de ocasião percebam, que quem fazem educação, quem ensina, quem ajuda os jovens a ter perspectiva de uma vida melhor é o professor.
Portanto, o professor aquele que lhe ensinou a falar o que você fala hoje merece respeito, e não é o bode expiatório da mazelas criadas e plantas pela elite, cujo único objetivo é faturar doar em quem doer. As coordenadoras que assim comungam devem conhecer a história, a sociologia, a filosofia; pois o contrário vão ficar repetindo igual a periquito o que ouvem de técnicos e “tecnicaloides” de toda espécie.
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