Por que as cotas para negros?
Para responder a esta pergunto é necessário lembrar um pouco da história do negro desde a sua chegada no Brasil na condição de escravo até os dias atuais.
Os povos bantos e sudaneses trazidos da África chegavam à colônia brasileira em péssimo estado. Isto porque as condições nas embarcações eram as piores possíveis tanto para os tripulantes quanto para os negros que eram considerados, cargas, peças ou simplesmente mercadorias.
Já em solo brasileiro, essa situação só piorava. Os negros eram inseridos nas lavoras nos engenhos, nas minas de extração de ouro ou simplesmente nos trabalhos corriqueiros do cotidiano e regrado aos maus tratos. Á própria condição de ser escravo já lhes rendia bastantes angustias e a sobrevida do negro era estimada em cerca de apenas dez anos.
Em 13 de maio de 1888, foi então assinada a lei Áurea. Este marco sinaliza o Brasil como o último país independente do ocidente a declarar sues escravos libertos e isso só tornou-se possível por força de pressões internas e externas. Mas apesar de tardia, em fim a escravidão é proibida no país.
A partir desta data não cabia mais os discursos inflamados de contra ou a favor a escravidão. O negro era livre e isto era um fato, pelo menos assegurado por lei. Entretanto, a lei Áurea não previa nenhum tipo de indenização ou qualquer tipo de amparo aos negros. Não houve a preocupação com políticas que reparassem a violência sofrida pelos negros por terem sido trazidos contra suas vontades para as terras brasileiras na condição de trabalhadores cativos e sem o direito de acúmulo de bens.
E então com a assinatura da lei Áurea os negros estavam livres e sem abrigo e seus antigos senhores que muito enriqueceram a custas da sua mão de obra estavam também livres de ter que oferecerem quais quer tipo de indenização aos seus ex-escravos. Talvez isto explique um pouco a maneira de como o trabalhador brasileiro em geral possui remunerações baixas e suas condições de trabalho são de pouca importância para os empregadores, pois isto é fruto de uma cultura que se arrasta desde os tempos colônias.
Mas retomando a questão específica do negro, o que se vê em seguida são as constantes tentativas de negar a presença ou importância do negro na historia e sociedade brasileira. A começar pela entrada do imigrante europeu que veio substituir o trabalho escravo e foi trazido ao Brasil em condições imensamente melhores às do negro. Aos estrangeiros brancos é sempre legado sua importância na construção da historia e do trabalho no país.
A estes foi concedido habitação, trabalho e direito de aquisição de patrimônio. E em quanto ao negro foi imposto à condição de se amontoarem em guetos e cortiços ao redor das cidades dando origens as atuais favelas. Isto por que sem nenhuma forma de amparo dos poderes públicos era o que lhes restavam.
Nos dias atuais o negro teve que sobreviver a todo tipo de perseguição que iam desde as que relacionavam ao demônio os elementos dos cultos afro-brasileiros até os anúncios de emprego que exigiam boa aparência que era uma forma de discriminação a estética do negro.
Até mesmo a presença do negro nas universidades é motivo de controvérsia. Uma parte da sociedade e de também alguns acadêmicos, repudia essa presença amparada pelas cotas. Argumentam que isto baixa o nível dos cursos e apontam para a reforma do ensino público como a solução para o problema. Porém, nunca é tarde lembrar que à crise na educação brasileira e o baixo nível das universidades antecede a política de cotas e a tão propagada reforma do ensino é conclamada desde os anos 70 e até agora não aconteceu de fato. Exigir que o negro espere por isso, parece ser um ato perverso.
Como pode um jovem negro vindo das camadas baixas da sociedade e que teve os seus ancestrais como ex-escravos e com tantos obstáculos sociais disputar uma vaga nos melhores cursos com um branco vindo de uma elite, a quem desde o nascimento já contava a com todas as facilidades que são acima de todo históricas? É preciso algum tipo de reparação e a políticas de contas vem dar respostas a isso.
Outro argumento que ampara a importância da política de cotas é a total inexistência de pessoas negras protagonizando comerciais de creme dental, grifes da moda, propagandas de carros e condomínios de luxo. Isso denuncia uma mídia que está a serviço de uma elite conservadora que não admite a riqueza da diversidade no Brasil e na contra mão disso, os negros são consumidores expressivos desse produtos, embora não sejam percebidos como tal. Porém o que ainda se vê é a forte associação dos modelos negros a anúncios e campanhas de assistência social.
As próprias produções nacionais ocultam a inserção dos negros em seus roteiros.
Faltam nas telenovelas textos que permitam colocar o negro em contexto de normalidade dentro do país. Os atores negros só aparecem em número expressivos em novelas de época em que o tema abordado é a escravidão ou em situações em que a condição de ser negro é sempre evidenciada. Nessas tramas um personagem negro é discriminado e surge um branco que ao contrário da maioria mostra-se livre de preconceitos. Tal situação parece querer reforçar que o negro será sempre uma figura atípica na sociedade, mas certamente isto não é verdade.
É importante, entretanto ressaltar que uma celebre minoria que ainda aparece pode demonstrar o sue talento por força das cotas. Aí permanece a dúvida: será que sem elas grandes atores como Lázaro Ramos e Taís Araújo, teriam oportunidade de mostrar o seu talento?! Em uma sociedade multimídia o que não tem visibilidade perde a força de expressão.
Até mesmo as tradicionais mulatas das escolas de samba tiveram que ceder lugar para louras ‘anabolizadas’ candidatas a celebridades que disputam os holofotes das câmeras dos repórteres e que não tem nenhuma identificação com as comunidades das escolas de samba que representam.
Hoje, quase o mundo inteiro celebra a subida do presidente Obama ao poder, mas isto só foi possível porque toda uma sociedade se permitiu mudar e rever seus conceitos. O povo norte americano viu que o caminho para a igualdade social é a inclusão através de políticas de reparação e de cotas. Ao contrário do Brasil que ainda resiste e se escandaliza quando as cotas propõem a inclusão do negro na sociedade em pé de igualdade já que esta igualdade não lhe foi dada desde a época da escravidão e o conservadorismo fez com que ela perpetuasse.
Por: Walterlin de Santana [AQUI]
É professor de história, terapeuta e mestrando.
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