Repensar
o currículo é uma tarefa que exige reconsiderar, pensar repetitivamente e com
insistência na matéria a fim de preencher, na medida do possível todas as
variáveis que vão questionar as mudanças a serem propostas; já que, no que diz respeito a sociedade é
preciso considerar inconsistências que advirão desse posicionamento. Abruptas
mudanças, mesmo que sejam para inovar, trazem consigo necessidades de “ajustes”
a fim de que a adesão seja uníssona, na medida do possível, para atender as
variáveis formas e nuances do saber científico.
Desde
a década de 80 que leciono língua inglesa, inicialmente no Instituto de Idiomas
Policenter e em seguida outras Unidades de Ensino. Naquela época tínhamos o
gravador, que utiliza fita cassete, a qual era importados da Inglaterra ou
Estados Unidos, visto que a proposta era levar o aluno a imersão do idioma. Novidade
na época e de grande interesse dos alunos do Instituto de Idiomas, que era uma
entidade privada. Os alunos desejavam e queriam aprender inglês por vontade
própria ou cobrança dos pais. Sem deixar de mencionar que os livros e fitas
eram caros, pois eram com já citei importados.
A
experiência adquirida iniciativa privada
tentei levar para a escola pública, no bairro de Plataforma, Colégio Luiz Rogério,
até mesmo no trato com os alunos; ou seja, mais negociação e convencimento num
diálogo democrático e na tentativa de fazê-los ver a importância do idioma.
Indiretamente estaria eu na gênese de repensar não o currículo, mas a forma de
abordar os conteúdos da disciplina e as relações com os alunos. Ruína está é a
palavra, que acredito ser a melhor, para descrever a experiência com os alunos:
indisciplinados, faltas generalizadas, não participavam das atividades e
conversavam paralelamente na sala, como se lá eu não estivesse. O treinamento
oral era uma quebra de braço, visto que os alunos não queriam, questionavam que
nunca iriam viajar para “terra de gringo”, outros simplesmente não treinavam a
pronúncia. No dia da avaliação alguns recusaram fazer as provas, com a alegação
de que nunca viram aquele assunto. Uns outros mostravam o caderno vazio,
justamente os que conversavam, posto que eu não cobrava o caderno. Do
exposto, vê-se que em uma única disciplina, com um único professor ocorreram
vários eventos achacáveis, imagine-se isso no conjunto da sociedade.
Um
líder comunitário chegou até mim e disse (não recorda todas as
palavras, porém o conteúdo foi este): “professor esses meninos não estão
preparados para este tipo de aula. O senhor precisa ‘impor regras, cobrar deles’
um comportamento mais civilizado, mostrar quem é a autoridade na sala”. O líder
comunitário não possuía a formação acadêmica, não passou pela sabedoria
científica; entretanto, tinha o saber da vivência, da lida com pessoas e suas inconstâncias.
Esse fato demonstra que repensar o currículo significa, também, olhar o mundo
além dos muros e fazê-los aos poucos. As pessoas precisam quebrar paradigmas erguidos
pelas estruturas de seu mundo. Em nenhum momento, antecipo a dizer, está se
justificar o imobilismo do currículo. Não é este o pensamento, quer se fazer refletir o currículo por várias mãos e
saberes, considerando todas as ciências e suas singularidades.
A
fragmentação curricular só nos leva ao isolacionismo das ciências, impede o
circular entre os conhecimentos. A fragmentação “do tipo coleção (BERNSTEIN, 1988) implica não
somente um desejo, mas uma vontade política que vá além do discurso, redimensionando
velhos paradigmas ou concepções eu muitas vezes estão arraigados em nossa
formação, acreditando no novo, porque na construção de uma proposta curricular
não podemos negligenciar que “[...]é preciso levar em consideração que existem
diferentes classes de conhecimento e que cada uma delas é reflexo de
determinados propósitos, perspectivas, experiências e valores humanos”
(SANTOMÉ, 1988, p.100).”.
Vê-se, por conseguinte, acopla-se no que ocorreu comigo na escola onde os
alunos e pais de alunos possuíam concepções rígidas, arraigadas, que para eles
foi a forma como aprenderam. Trazer um pensamento inovador é lutar com
paradigmas institucionais fincado nos convencionalismos de então.
Construir
uma nova concepção curricular necessariamente não quer dizer destruir, jogar no
tapete do quintal as experiências do passado, pois muitos dos alunos de hoje
aprenderam sob aquele manto. É primordial salvar aquele conhecimento que formou
muitas gerações e caminhar lado a lado e fazendo ajustes necessários a
modernidade. É notório que o jovem do passado não possuía internet, ipod,
celular, tablet e todo apanhado tecnológico que permeiam as vidas dos jovens da
atualidade. Inclusive as brincadeiras eram nas ruas, nos pátios, nas vizinhanças,
o que hoje é sobre “divices” que enchem os lares; caminhando junto com o
educando em direção a sala de aula. Implica que o currículo deve contemplar
essas novidades sob pena de ficarem obsoletos a escola e o currículo.
Destarte,
“o upgrade” , usando um vocábulo da moda, do currículo passa pela vontade dos
professores, sociedade como um todo. Na busca do aperfeiçoamento da sociedade e
perseguindo o que seja importante para o
seu aprimoramento (currículo). Imperativo é quebrar paradigmas nas crenças, concepções no intuito de buscar
o bem comum. Todos envolvidos devem protagonizar contribuições que assentem em
cheque os modelos vigentes então. Um currículo deve possuir linhas reflexivas a
fim de que o trabalho pedagógico supere os limites, a acentuada divisão de
classes sociais, divisão do trabalho, conteúdos desarticulados, compartilhados
e hierárquicos de tom insulados. As novas tecnologias devem ser integradas a
este de modo a fazer parte do cotidiano da escola.
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